sexta-feira, 22 de maio de 2009

Montanha de onde não se sai

(Um conto, se é que se pode chamar assim:...)

Uma gota de chuva caía solitária do céu percorrendo seu caminho, até que tocou no rosto de um homem, escorrendo pela face magra e áspera, resvalando em seu ouvido, caindo então na grama. O homem estava desacordado, jogado solitário em uma campina, suas mãos amarradas, e seus pés enfiados em uma poça funda de água.

A gota que caíra no rosto do homem, também trouxera consigo, mais um milhão de outras gotas, que molhando o corpo seco daquele homem, trazia-o pouco a pouco a vida.

Uma agonia frenética tomou conta daquela pessoa, parecia envolvê-lo em uma dança de contorções; ele, batendo osso com osso, e rangendo os dentes, estalando as juntas, sua face alternava entre um estado de dor profunda e apatia pelo sono. Pouco a pouco seus movimentos tornaram-se mais suaves, até que ele estagnou. Seus olhos mantiveram-se fechados por alguns minutos, quando enfim se abriram delicadamente. Olhos grandes, castanhos como madeira envernizada. Totalmente inexpressivos, pareciam guardar um segredo profundo. As janelas da alma daquele homem estavam trancadas a sete chaves. Duas marcas de expressão delineavam aquele rosto, uma cicatriz no queixo confundia-se com outra marca de expressão, não era um homem feio, mas mostrava-se muito abatido.

Na situação em que se encontrava, ele permaneceu parado olhando para baixo por vários minutos, não tinha forças para observar o lugar onde estava. A campina era o cume de uma montanha, abaixo da montanha havia florestas em todas as direções, aquele pequeno cume de campina e matos rasteiros era a única parte daquele ambiente que não possuía sequer uma árvore. A montanha era formada por uma rocha bastante acidentada, suas deformações formavam quase que uma espiral, que se desfaziam na medida em que a chuva se intensificava. Algumas construções humanas podiam ser encontradas naquele cume, rochas esculpidas em formato de mesa contrastavam com o verde, além de alguns vasos gregos, e pedaços diversos de concreto que compunham uma porção de entulhos esfumaçados, que mais pareciam destroços de uma cidade devastada pela guerra...

Não havia ninguém por ali, apenas aquele homem longínquo como qualquer outro homem sem memória. Na medida em que o tempo passava lenta e rasteiramente, o homem se estruturava em sua imobilidade. Seu olhar, porém, mantinha-se vazio e silencioso, como uma lâmpada acesa guardada dentro de uma gaveta.

A prisão consiste no desconhecimento de si mesmo...

Aquele homem, sem nome ou pensamentos, era uma alma distanciada do mundo, tal como um barco no mar do tártaro, esquecido pela água e pelo vento, a navegar o caminho que navegam os que já morreram, e não sabem que estão mortos.

Na embriaguez calada da noite, o homem permanecia imóvel, pensamentos tão distantes como uma pedra está distante de outra pedra. Ele sequer esboçava reação ao fato de se encontrar sozinho na noite devoradora que ali se fazia.

Tudo era imensamente novo para ele, mesmo o vento lhe era inédito. Até por que sua mente jamais vira um vento tão maltrapilho como aquele vento. Um vento sujo, repleto de folhas... Advindas do que existia embaixo da montanha, isto é, a floresta terrivelmente densa e infinita a se esconder no degrau Maximo do distante, ponto em que o horizonte haveria de despencar.

O homem era naquele momento, absolutamente vazio em pensamentos e distante em vitalidade, tal como quem enxerga o final da vida no ponto mais do que vago em que não se pode encontrar nem vida nem morte.

O mundo secreto que ia desde as rochas acidentadas, negras como é negra à noite sem estrelas, até os maremotos de arvores em ondas de folhas, absorvia o homem. Que sem coragem se entregava a um estado mágico de desmotivação.

Sem fome ou sede, Sem sensações quaisquer que sejam. O homem simplesmente permanecia. Nem vivo e nem morto. Sem coragem de encarar o universo no qual estava afundado. O Maximo que o homem fazia era imitar o estado de um peixe. Pois via no peixe um exemplo de ser sem inteligência, que vive preso na cortina infinita de água, sem imaginar que a água limpa e bela é na verdade uma prisão.

Assim a noite morria... E o homem cada vez mais deixava de existir. Sendo ele, na mesma medida do pulsar do tempo, um ser eterno, tal como os seres que não existem.

------------------------------------------------------------

Num buraco aberto em uma rocha da montanha, abrigava-se uma ave na paciência de esperar o fim de uma chuva demorada. A tarde havia começado há pouco tempo, e uma chuva indomável devorava a floresta e a montanha.

No cume as gotas de água caiam como facas a machucar o chão. A tempestade furiosa descarregava do céu uma centena de relâmpagos. Naquele contexto de água e treva, O homem escondia-se debaixo de uma mesa de pedra deslumbrando assustado o ímpeto furioso da chuva, suas mãos já não estavam mais amarradas, e na sua face, estampava-se o mistério.

A chuva era destrutiva, abalava as estruturas da montanha. Aquela tempestade formou-se rapidamente, e, naquele momento era a pura expressão de Gaya. Um pincel nas mãos da natureza a construir no céu a pintura de um homem. Um homem esquecido no cume, tão passageiro como todos os homens. E mal sabia o homem da montanha, que ele era a própria tempestade.

O homem estava ainda, totalmente ignorante do que acontecia em si, matinha-se também ignorante do que acontecia fora. Na ignorância sempre habitou a cólera. E é de cólera que é feita à tempestade...

Depois que a chuva passou, o homem saiu da toca, e enfim demonstrou alguma emoção, ao apreciar o céu laranja que se formara. Ele caminhou feliz na direção do precipício do monte. Em seu semblante havia uma grave diferença que podia ser facilmente notada. Um ar de coragem o envolvia, a chuva lhe inspirou vida. Na beira do precipício uma ave assustada gritou ­­__há!

Se aquela ave me emprestasse as penas pretas... _ pensou o homem.

Logo conformado ele decidiu sentar-se na beira da montanha, ficando lá a contemplar o namoro do pássaro com o sol gigante.

Com coragem ele enxergou Abaixo de si a vastidão infindável de árvores a dominarem toda a imensidão. Não se podia ver outra coisa por ali, senão árvores, em diversidade infinita de espécies.

O pássaro desapareceu, e a noite envolveu aquele mundo em madrugada estrelada. O homem adormeceu preguiçoso à beira do penhasco.

Na longa madrugada, o homem ressurgiu do poço de sono que o envolvia e, repleto de energia, colocou-se de pé junto à beira do abismo. Sentiu que seus pés podiam perfeitamente tocar a imensidão das árvores que se erguiam gigantes, muito abaixo da montanha.

Certamente ele se sentiu divino, e pensou no quanto seria bom naquele momento ser capaz de voar.

Logo se desfez do momento de glória, e descobriu-se então mudo. Mudo de linguagem, mudo de fala e de gestos. Por mais que em pé estivesse, não conseguia sentir em si mensagem alguma. Sentiu-se um cacto sem vida.

Aquele homem opaco tentou falar alguma palavra que o tornasse de fato um ser vivo. Mas para seu espanto, suas palavras saíram ocas, vagas como é vago o poente sem alguém para vê-lo. Em seguida ele parou, tentou estar morto, e percebeu que também nele próprio não havia morte. Ele se sentiu imensamente infeliz, passou a acumular os sentimentos que possui uma árvore, que não se sabe se está viva, embora se tenha certeza de que não está morta.

Pensou em jogar-se do penhasco, logo mudou de idéia ao sentir o gosto que lhe deu a pedra que caiu escorregando montanha abaixo. O estado de total isolamento, não lhe rendeu naquele momento bons sentimentos, até porque nem sentimentos, nem razão, sobrevivem à solidão eterna e completa.

Parado como uma estrela, o homem se sentiu solitário pela primeira vez.

Percebeu duas pedrinhas bem juntinhas de seu calcanhar, viu com estremo pavor a proximidade delas, sentiu-se também uma pedrinha. E como pedrinha, pôde descobrir que pedras estão sempre anos luz umas das outras. É na falta de comunicação que reside a imensidão do universo...

Na incomunicação completa o homem se sentiu muito distante de tudo. Distante até de si. Com isso passou a perguntar-se, se realmente existia em si um si.

Na imprecisão eterna do conflito, ele começou a tocar-se por inteiro, queria descobrir em si mesmo a pessoa de um si. Queria descobrir até que ponto havia vida ou morte em seu atual estado. Pensou que se por acaso viesse a encontrar o si, poderia vir a ser. E caso viesse a ser, também passaria a existir. E se existisse poderia então, finalmente, ter alguém com quem comunicar-se. Isso o libertaria da montanha, das árvores, e daquele lugar horrivelmente distante, para sempre...

Mas tentar conhecer-se não foi algo produtivo, não lhe rendeu bons resultados, apenas sentiu ao tocar-se, a sensação que tem uma arvore quando um de seus galhos toca-lha o tronco.

Entediado, o homem caiu sentado no chão esverdeado. Olhou o quanto estava escura a noite, e pensou se poderia ele próprio ser aquela escuridão...

Ele pensou: Seria muito bom ser escuridão!

Imaginou que assim poderia ser sem preocupações um nada. __Mas a escuridão não é como o nada, na verdade a escuridão é a causadora do nada. Retrucou seu pensamento...

Então finalmente uma luz se acendeu em seu pensamento, e em dedução, ele passou a estar alegre.

Como uma alma repleta de paz, ele chegou a conclusão de que nada é na verdade alguém que não está sendo visto por um outro alguém, sentiu-se feliz com tal dedução. Viu que não importava mais estar vivo ou morto, pois ele ali não existia.

Uma outra alegria lhe tomou conta do cérebro. Ele percebeu que poderia ser a causa de tudo ao redor existir, e logo teve certeza disso. Embora não fosse capaz de fazer-se existir.

O que de divino lhe atingiu, foi que passou então a parecer-se com Deus. Começou então a fazer as coisas existirem. Nesse ato amigou-se graciosamente com os próprios olhos, olhos que naquele momento eram o verbo do principio. Olhos faladores, falavam com grande expressão. Passaram a conversar com a natureza comunicativa das coisas existiveis. E as coisas eram comunicativas como os olhos. Tudo era comunicável, as arvores eram comunicáveis. A água empossada era muito comunicativa, e a montanha... Era comunicativa em demasia.

Os olhos grandes, castanhos e criadores, traziam a existência tudo quanto aquele homem quisesse que existisse. Ele, por sentir-se como algo inexistente, sabia o quanto era estranho não existir. Então olhou na direção do céu, e fez existir a noite infinitamente bela, e as estrelas magníficas. Fez a lua existir com um ato de carinho especial àquele astro. Ele olhou atentamente para a floresta, para as árvores... E pôde ver que magicamente elas passavam a existir.

Ele olhou os entulhos atentamente. Os entulhos lhe eram uma mensagem difícil de digerir, diziam respeito ao mundo de antes de ele deixar de existir, e isso lhe ameaçava a aparência de Deus que ele conquistara ao não mais existir. Passou a gostar de não existir, e não queria contato com nada que ameaçasse seu reinado. Por isso achou melhor deixar os escombros na inexistência, e não mais os olhou. Uma tentativa dolorosa de comunicação sem sucesso com esses lixos lhe tirou todo e qualquer desejo em conhecer seu passado.

O homem passou a amar aquela vida de criador, se apaixonara em cinco minutos pela descoberta nova. E a descoberta, lhe foi como se uma mulher de olhos morenos e fortes abalassem suas estruturas por completo, e de fato ele agora, estava despido da antiga face neutra, embora estivesse muito mais afundado na inexistência quando acordara na montanha do que naquele momento.

A mulher de olhos morenos lhe concedeu a capacidade de mentir para si mesmo. E isso lhe era muito saboroso...

Tempo depois de haver feito as coisas existirem, o homem decidiu descansar, e pensou orgulhoso no quanto era cansativo fazer as coisas existirem.

Há este instante, a lua já se lançava ao chão em queda, afundando no mar de arvoredo. Aquela queda... Acordou naquele momento uma multidão de passarinhos, habitantes da floresta, pássaros que desfilavam pelo céu, felizes por existirem.

O homem dormia como uma pedra, lançado ao descanso merecido, os olhos fundos... Como são fundos esses poços que os homens carregam em si, poços feitos com os tijolos velhos das pirâmides do Egito. Musgos e cogumelos feios a espalhar-se até o fundo. E no fundo desses poços, em vez da bela e limpa água, apenas um amontoado de cacos de vidro e concreto, como é feio o olhar dos homens...

No sono do descanso. O homem sequer sentiu o calor do sol afundar-lhe na cabeça. O que lhe sucedeu foi que, um pesadelo terrível tomou conta de sua alma.

Ele sonhou que acordava no topo da montanha ansioso em maravilhar-se com sua criação. Porém no acordar dentro do sonho, sentiu que uma outra arma criadora se erguia em sua alma: o olfato.

Um sentimento péssimo envolveu o homem quando ele sentiu sua nova propriedade criadora. O fato era que o homem já havia se dado por satisfeito com o que trouxera a existência. Toda a pobreza do que já existia lhe era agradável.

Ele apenas havia feito existir aquilo que lhe pareceu mais imediato: As arvores, o Céu, a montanha, os sapinhos, os passarinhos. Ele teve muito medo de seguir com a criação, e não queria que outras coisas, que lhe destituíssem o reinado viessem a existir.

Além de que, sentia prazer em “não estar”, mas queria que o seu “não estar” se aproximasse de coisas que fossem felizes. As arvores eram felizes, a lua estava sempre feliz...

Porém, o pesadelo era atroz. E quando no sonho o homem não conseguiu segurar a avalanche esfomeada que era o olfato. Deixou-se dominar por tal força.

Ele sentiu um cheiro poderoso lhe sufocar a existência. Um cheiro forte de fumaça. Era o batismo de sua propriedade comunicativa com a comunicação das coisas mortas. O homem sentiu que as arvores, os pássaros, e os outros animais, que, por seu intermédio existiam, lhe invadiam ali a alma. E ele inebriado como qualquer um que está sonhando, passou a desesperar-se.

Quis então saber o que acontecia... Por que em sua mente nascia a linguagem das coisas mortas. Então deu toda a liberdade para seus olhos para que criassem tudo o quanto quisessem. Isso por que ele também foi tomado por uma grande curiosidade. Foi nesse momento que o pesadelo chegou a seu ápice. O homem viu uma cortina de chamas, poderosas, consumirem toda a floresta, em toda a circunferência que seus olhos podiam alcançar, isto é, a circunferência ao redor da montanha até o local onde o horizonte se desfazia.

Redondo, o fogo consumia tudo, tal como uma avalanche impossível de ser contida. O fogo transformava tudo quanto o homem tinha feito existir em fumaça, era o sumo espectral de morte, muito profundo.

O olfato, ah! Este não demonstrava nenhum respeito por tal acontecimento, e era naquele momento, o criador de tudo quanto é morto. E o mais aterrador para o homem, imerso até os cabelos no pesadelo, era que, toda a morte, passava naquele momento a existir, inevitavelmente...

Foi quando o homem acordou. Viu o sol tenebroso chicotear-lhe as costas. Sentiu-se um cristo maltratado...

Olhou triste para o infinito de arvores, e nelas, enxergou toda a imensidão de morte. Os olhos do homem, que até então lhe serviam à criação, agora eram a expressão da tristeza. As lágrimas escorriam aterradoras por suas bochechas. Do poço, enfim emanava água.

Caído descontrolado de pranto, o homem sentiu uma compaixão terrível por tudo o que havia trazido à existência. E se viu obrigado a engolir goela abaixo tudo quanto lhe causava medo antes, agora, ele sentia o medo de não mais vê as coisas que existem.

Este novo olhar trouxera a mente do homem uma palavra que, antes de ele sofrer o pesadelo, não pairava em sua mente. Isto é, agora, quando ele avistava a floresta, um pedacinho dele mesmo cantava... Um pedacinho que fazia parte de um antigo “si” mesmo, Um si mesmo, que antes dele acordar na montanha, existia. E que ele, por medo, não ousava procurar.

Porém, este pedacinho lhe veio sem aviso...

Isso fez com que ele se sentisse deveras fragilizado, como se aos poucos, a muralha que lhe afastava do passado se romperia. Pois, um pedacinho do passado conseguiu transpassa-la. Tal como uma espada.

Ele percebeu que o próprio abrigo estava naquele momento sitiado, sitiado por um outro ele, o ele do passado.

O pedacinho foi uma reação da linguagem, que reagiu ao apelo dos olhos que enxergaram de manhã a imensa floresta.

De sua boca saiu sem que ele precisasse pensar, a palavra: RUA. Este foi o pedacinho que lhe escapou do passado. Logo ele se sentiu na iminência de existir...

E na possibilidade de que poderia estar existindo, ele imaginou que alguém estaria ali, na montanha, junto dele.

Dessa maneira ele descobriu que um outro alguém estava ali. Pois, se por acaso ele viesse a existir, era por que alguém o traria a existência no ato de vê-lo. A possibilidade de que alguém poderia estar escondido em alguma partezinha da montanha lhe trouxe um sabor amargo à boca. Pois, não queria dividir o poder de fazer as coisas existirem com mais ninguém. Até por que, sozinho e inexistente, ele teria mais chances de manter a existência das coisas da maneira como bem quisesse.

A aterradora ingenuidade sua, queria todas as coisas existindo pacífico e superficialmente. Porém ele, no fundo da alma, sabia que esta paz que havia criado não duraria para sempre, e que uma outra pessoa estava ali. Uma pessoa oculta, guardada em algum lugar.

Ele colocou-se então a procurar na montanha o outro alguém. Passou a procurar nos escombros, aqueles pedaços de concreto indecifráveis, brancos e enrugados. Ele sentiu que sufocaria ao investigar nos escombros, o medo de que sua existência nascesse em um momento de lembranças mantia-o sempre com uma sensação de risco.

Como então passou ileso pelos escombros, sentiu-se repleto daquela alegria, que em geral as pessoas sentem quando vêem que estavam enganadas sobre alguma presunção pessimista.

Num certo momento daquele dia, O homem se pos a procurar a outra pessoa por todo o espaço diminuto do cume daquela montanha. Remexeu vasos gregos, olhou as cavidades que se espalhavam na beirada do cume. Gritou, esperneou e se cansou. Mas nada encontrou de vestígio de uma outra pessoa.

Nesse momento ele percebeu que a outra pessoa estava num lugar que ele não poderia investigar...

Esta idéia lhe tocou malignamente na cabeça, e ele temeu ser o próprio causador de uma criação morta.

O desespero lhe atingiu infinito. O sol repleto de aves não lhe chamava mais a atenção, ele estava absolutamente imerso num si mesmo. Agora ele sabia que estava a um fio de passar a “ser”.

Um casulo da existência pulsava nojento dentro do mármore de que, ele naquele momento era feito. O medo de que o casulo lhe roubasse a inexistência lhe maltratou tanto, que ele se entregou ao inevitável.

Passou ele a refletir paulatinamente no futuro que lhe aguardava. Pensou na possibilidade de que a existência lhe viesse com a noticia de que estava morto, ou pior, na possibilidade de um usurpador se apoderar de sua inexistência. E com isso, serem feitas as coisas belas que ele fez existir, coisas mortas e feias.

Certo Tempo depois de descobrir que poderia a qualquer momento passar a existir, o homem desmoronou completamente em tal possibilidade. Exatamente da mesma maneira que uma pessoa se sente quando sabe que irá morrer em poucos dias.

Então ele pensou... E pensou... E pensou... E logo... Descobriu que pensava. E descobriu que por “pensar” poderia comunicar-se com as coisas comunicáveis, e por poder se comunicar com as coisas, elas poderiam fazê-lo “existente”.

O homem passou dessa maneira a existir...

E lhe doeu a cabeça, pensar tanto...

Ele, como existente sentiu fome e solidão. Sentiu-se também extremamente vulnerável, pois as coisas poderiam fazê-lo existir como bem elas quisessem. Por isso ele poderia vir a ser a qualquer momento uma outra coisa, e isso lhe tirava a qualidade de dominador.

Ele se parecia agora, um pouco menos com Deus. Mas um ânimo lhe sobreveio, descobriu que poderia moldar as coisas antes que elas o moldassem. Poderia ele ser mais rápido que as coisas, e assim, não perder a majestade.

Naquele momento o aleatório lhe escapou, ele existia! E ao descobrir que existem vantagens em existir, O homem se encheu de um novo gás. Ele prometeu a si mesmo que antes que as coisas lhe dominassem, ele as dominaria, nascia então um tirano. Que, já havia deposto da cadeira magnífica do poder, aquele outro homem que não existia.

O tirano existente amou as coisas, amou a arvore, a lua, e tudo o que seu antecessor fizera existir. Porém desejava ser temido pelas coisas, para então ser respeitado por elas. O respeito das coisas o manteria com todo o controle, já que as coisas poderiam depois de se serem moldadas, moldar ele.

Tendo o controle, ele acabava por ser capaz de moldar a si próprio...

Mas existir é muito doloroso...

Desde que acordara no cume, o homem não havia comido, e nem bebido nada, pois até então era como se não existisse. Porém, naquele momento, ela passara a existir, e a fome lhe atacou gravemente os sentidos. Além de que, quem existe, existe por uma razão, existe por um dia ter começado a existir, quem existe tem um nome, uma historia. De todas estas coisas, o homem teve fome. E a maior de todas as fomes que ele teve, foi à fome por um nome, Assim ele batizou a si mesmo, exclamando com força e ímpeto:

Meu nome é, Hoje e agora, José!

-----------------------------------------------------------

Era algum momento do fim da madrugada, e José jazia sonolento na grama pontuda do cume da montanha. Passaram dois dias desde que José sentiu fome pela primeira vez. Assim como também haviam passado dois dias desde que José tornara-se José.

Naquele instante na montanha, José era o macaco dorminhoco do galho da árvore mais alta da floresta, e também a anta pesada, a se arrastar dormindo pela lama de algum riozinho perto dali. Embora José fosse de todo, José, o José trancafiado à montanha. Porém, José apreciava ser José... O nome acalmou seu dragão do passado, que no ápice de um confronto não antigo, rugia querendo apoderar-se da feição que este havia conquistado.

Quando José proferiu o próprio nome dois dias antes daquele instante, foi como se um rei poderoso erguesse a espada para proclamar um aldeão simplório: valete de ouro.

José dormia lindamente ao nascimento da manhã, sem camisa, deixava o cabelo comprido confundir-se com a barba recém crescida. Cinco dias coloriram seu rosto branco com um áspero vermelho. Os sapatos marrons e esburacados serviam de recipiente para a comida que o náufrago daquele mar de arvores conseguira com destreza alcançar.

A manhã nascia habilidosa, a comer com garfo e faca os pedacinhos de nuvens que pouco a pouco iam desaparecendo.

Enfim morria a última estrela, para que com sua morte nascesse a primeira... O vento matutino empurrava os cabelos de José. O homem... Ruivo... Alto... magro... Em suas costas repousava um Jesus, tatuagem que José desconhecia.

Na medida em que os segundos iam passando indiferentes, José erguia lentamente os olhos. No amanhecer aquele homem ganhava a beleza de uma mulher. Seus olhos tornavam-se calados e misteriosos, as vezes pareciam dominados por algum prazer. Poderia ser o simples prazer de viver...

E assim na manhã, no rosto de José, os olhos acordavam antes das pálpebras...

De súbito, José acordou. Não que tenha acompanhado a autonomia de seus olhos, mas por não negar lealdade a própria fome. A fragilidade de sentir fome tornou José uma pessoa quase decepcionada em existir, e em algumas vezes, ele quase se entregou ao mistério de seu passado, pensando profundamente se sentira tal dor antes de ir parar naquela montanha. Tal coisa lhe empurrava montanha abaixo, quero dizer, ele sentia também curiosidade em saber o que existia além da fortaleza indomável da floresta. Porém, esses momentos eram raros.

Sua consciência era implacável como uma sentinela. Pouco conseguia sua curiosidade diante da barreira impenetrável do medo que este sentia do próprio passado. Ao mais ele enganava a si próprio... Mentia habilmente para si mesmo. Muitas mentiras ele já havia inventado. Bem possível fosse que ele soubesse perfeitamente o porquê de estar num lugar tão inóspito.

José se levantou desajeitado, cumprindo com sua tarefa de “ser humano”. Apenas se levantaria gloriosamente, se alguém estivesse vendo-o levantar. Ele não tinha qualquer compromisso em ser belo e poderoso, apenas queria manter-se no domínio de seu mundo particular, tão físico esse mundo quanto os sonhos de um médium. Então, ele se ergueu do claustro da sonolência, e olhou atentamente na direção dos entulhos. Uma caixa de concreto se erguia por entre os entulhos. José a marcara com o olhar, temendo porém, se aproximar de imediato dela.

A caixa não estava ali há muito tempo, apareceu há alguns dias. E José não queria se aproximar de súbito dela, por isso passou por ela com indiferença, e foi para a beirada da montanha, analisar artisticamente o visual das folhas gloriosas, que em majestade vagavam até o horizonte.

Ali, ele mesmo fazia parte do quadro que admirava. Ninguém é capaz de admirar a beleza de uma pintura, sem nela também enxergar a si próprio...

José era naquele instante Narciso. Viu-se lindo no sol nascente. Desejou a si mesmo, sabendo que apenas se apaixonara pela vida por nela estar afundado até o pescoço. E achar-se bonito, era em José, um desejo muito próximo daquela coisa que um apaixonado chama de ânsia. Ânsia de conhecer-se, ânsia de inventar-se, e na medida em que ele se inventava no nascente, nascia também nele um José. E mal sabia ele que, nascendo todos os dias, tornar-se-ia um Deus Egípcio. Transformando o horizonte no seu Nilo pessoal. Ah! Como ele gostava de banhar-se nu nas águas do Nilo... E de fato o seu espírito estava despido de qualquer amarra.

Porém, repentinamente, o espelho se partiu, e Narciso se viu quebrado, feio como é feia a sociedade. Milhões de pedaços... Um exército... Apenas um homem...

Acontece que a fome, gritando como a baladeira de Davi, lembrou José, que, sua sensibilidade para com a manhã, era apenas um pretexto para que ele se preparasse para enfim olhar a caixa de concreto.

Ele se dirigiu oscilante em passos a caixa de concreto...

A caixa de concreto, era na verdade uma armadilha... Que ele havia preparado no primeiro momento de fome que teve. Aquele homem era muito bom em preparar armadilhas... Habilidade que herdara do passado, e que sem perguntas ou questionamentos, ele executara como se tivesse, de uma hora pra outra, aprendido na própria montanha, __a fome nos faz aprender coisas... Pensou ele.

Ele já havia conseguido capturar com sua armadilha, dois pequenos passarinhos, que lhe serviram de alimento nos dois dias anteriores. Então resolveu construir uma armadilha maior, na esperança de capturar um pássaro maior.

Na verdade ele sonhara no dia anterior a este, que fazia uma armadilha tão boa, que capturara com ela uma grande águia. O sonho exerceu certo poder à fantasia do homem, dando-lhe em parte um desvario. Ele realmente acreditava que pegaria uma águia.

Ele criou uma grande arapuca, grande como era grande sua expectativa, arapuca capaz de conter um animal do tamanho de uma águia. Para isso ele usou parte da madeira que saia dos entulhos.

A madeira ele retirou dos entulhos movido de um grande temor. Mexeu apenas no mais externo dos entulhos. Desviando sempre o olhar do monturo.

Com a ajuda de uma placa de concreto, ele projetou uma caixa que media cerca de 3 metros em cada lado. Numero incerto, já que se tratava de um material de entulho.

Bem que aquele homem poderia ter projetado a armadilha para matar o animal de uma só vez, Cada pedaço de concreto do entulho pesava absurdos suficientes para matar um grande animal. Mas ele preferiu faze-la em forma de caixa, para assim ter a chance de ver o animal ainda vivo em toda a majestade própria a uma águia.

Quando ele se aproximou da caixa. Viu que sua armadilha havia sido acionada, ficou muito feliz com isso. Teve certeza de que havia capturado uma águia. Já que, ele havia utilizado uma carcaça de passarinho como isca, outros passarinhos não comeriam carne de sua própria espécie, além de que, havia projetado a armadilha para um animal médio, um passarinho não haveria de ser pesado suficientemente para mover o talo que acionava a arapuca de concreto. Além de que, um animal terrestre não poderia subir até o topo da montanha. Todas essas reflexões ele fez, e alegrou-se ansioso em deslumbrar a sua águia.

O homem cuidadosamente derrubou o concreto que lhe deixaria face-a-face com sua presa. Isto é, ele derrubou o concreto que prendera o animal na dimensão quadrada da caixa.

Nervoso. O homem estendeu os braços rumo ao escuro do interior da caixa, bastante ansioso em sentir nos braços, as bicadas e unhadas de sua pseudo-águia.

Mas as bicadas não vieram, nem sequer unhadas, nem mesmo qualquer movimento de defesa, ou qualquer barulho que fosse pertinente a um animal voador. O homem sentiu os dedos, naqueles segundos, tocarem em uma única e aveludada pena. Chegou a imaginar que havia matado a águia, essa imaginação lhe rendeu três segundos de felicidade.

O que lhe veio à mente nos dois segundos consecutivos, foi dúvida... Que no completar de cinco segundos se transformaram em espanto... Ele sentiu nas mãos, que tocava numa pena amarrada a uma superfície fina e áspera de madeira. Seus dedos enxergavam mal na escuridão, então ele puxou a madeira fina para fora, onde a pudesse enxergar com os próprios olhos. Para isso usou-se de bastante força. Logo ele se viu segurando uma flecha... Espantou-se terrivelmente.

A flecha não foi à causa do maior espanto de José, mas aquilo que ela havia machucado. O certo é que um Animal semelhante a uma onça encontrava-se morto dentro da armadilha.

A reação de José foi a seguinte:

Ele se levantou abruptamente, e passou a olhar para o céu, desesperado. Sentiu-se aquele animal, sentiu o sabor da flecha.

se sentiu...

Aquele José se Sentiu imensamente intrigado com o fato de estar sozinho no cume de uma montanha, rodeado por árvores, que invadiam o infinito e iam mais além, muito mais além... Foi esse o resultado da nova descoberta...

Pela primeira vez desde que acordara o homem esteve de fato na montanha. E estando na montanha, ele sentiu medo. Como qualquer ser humano normal sentiria.

Tempo depois seu ceticismo cuidou para que seu pavor não se instalasse por completo...

Olhando pelos arredores, ele impunha a si, magistralmente, um limite ao próprio desespero.

E em tanto se preocupar no como havia chegado àquele lugar inabitado, acabou ele esquecendo da flecha que atingira o animal. Depois de certo tempo, ele passou a acreditar que a flecha que encontrara no bicho, estava na montanha desde que esta fora formada. Passou após algumas horas do ocorrido, a também acreditar que esteve na montanha desde que a montanha veio a existir. E por fim, com o avançar da fome, acreditou que a paca fora trazida à montanha por algum animal voador, que eventualmente seria uma águia.

Na tarde daquele dia, já satisfeito com a refeição ensangüentada que comera. José sentou frágil na mesa de concreto que a natureza havia construído. E passou a deslumbrar com entusiasmo, o amontoado de vasos gregos que se espalhavam pelos arredores dos monturos.

Haviam por ali dezenas de vasos, com formas, tamanhos e gravuras variadas...

José selecionava com os olhos os vasos que poderia admirar ou não. Evitou observar os vasos que apresentassem pinturas ou desenhos de homens, ou talvez de coisas modernas.

Não se atrevia a analisar os desenhos de mulheres. Que eram abundantes naqueles vasos.

Na fração de segundos que viu o desenho de uma mulher forte de cabelos pretos, sentiu-se desajeitado e bobo. Assim como infeliz e abandonado.

Então resolveu escolher algum vaso que pudesse observar de perto. Para isso ele teve que se aproximar dos entulhos. José viu um vaso semi-enterrado nos destroços. Achou interessante pega-lo por encontrar nele o desenho de um Minotauro.

Como poderia um homem, ser ao mesmo tempo um animal? Pensou ele. O Minotauro realmente é um caso a se pensar... Continuou em pensamentos. Depois disso, ele repetiu em palavras, centenas de vezes a pergunta: Como poderia um homem, ser ao mesmo tempo um animal?

Com o vaso do homem touro na mão. José deitou-se na grama fresca do topo da montanha. E continuou a se perguntar, por que este homem também é ao mesmo tempo um animal? Na medida em que se perguntava com o mesmo tom intrigado de voz, o sol definhava no além.

Algum tempo depois José adormeceu, e nem sentiu quando um pássaro enorme cruzou o céu magicamente.

A montanha surfava calada no mar que era a noite como se fosse uma ilha do atlântico. Serena, aquela alma gigante de pedras confundia-se com o sonhar de seu único morador. E assim como acontece em todas as ilhas, pássaros noturnos, desfilavam pelo céu...

Quando enfim a noite passou, e a manhã desabrochou amarela e realçada, o cume lembrou a vivacidade de um paraíso. A campina alegre despertou tão verde quanto um amontoado de algas.

Algumas borboletas voavam bêbadas, no cambaleio típico de toda borboleta. E quando o sol se ergueu naquele cenário de vida e amanhecer, José despertou.

Porém, naquela manhã, José acordou preguiçoso de tão bem se sentir. Amanhecera muito feliz. Alguma coisa no sonho que teve o deixou, naquela manhã, repleto de uma felicidade plena e completa. Uma daquelas felicidades efêmeras como todas as felicidades.

Tudo estava mudado naquele cume. A grama amanhecera tão fofa naquele dia, que mais parecia veludo. O vento despertara solene e puro, apenas insetos bonitos passeavam pela grama. José passou bons minutos admirando o nada, feliz por estar perdido, absolutamente conformado com a montanha.

Porém, a verdadeira ocorrência de toda felicidade, sempre esteve absolutamente ancorada na espera de ser perdida, e toda felicidade, se felicidade for, perde-se em felicidade. Pois uma invenção do ser humano, como a felicidade, apenas serve de motor a todo desastre. É como um tapete cuja única utilidade seja a derrubada de quem quer que pise nele. E José pisara firme no tapete. Assim, firme também dele caíra.

José passou bons minutos sorrindo ao nada e fazendo gestos com os braços, gestos de liberdade e de felicidade. Manteve-se feliz, mas sua felicidade se tornou, rápido, numa inexpressão...

Esteve ele parado, sentado. E isso lhe propiciou um estado severo de concentração. E a concentração lhe afiou os sentidos. Principalmente os ouvidos. E os ouvidos, velozes e aplicados, deram-lhe a sensibilidade auditiva de tudo quanto ocorria ao seu redor...

Tudo estava uniformemente interligado em seus ouvidos. Tudo era barulho, barulho que se ligava a barulho. E a teia de sons formava no passo da velocidade, uma “quase-imagem”. Uma quase-imagem de tudo. Tudo era o engodo de áudios, e tudo circulava ao redor dele.

Aconteceu que, José percebeu que dentro da imensidão de barulhos da floresta e da montanha, algo como um não-barulho se movia pelo emaranhado de barulhos. Tal como uma bolha de ar dentro de um recipiente de água, o espaço vazio tem forma, e forma visível. Assim mesmo, o espaço inaudível, perdido no meio da imensidão de barulhos tinha forma, e uma forma assimilável pela ausência de sons... Então ele percebeu que o silencio, ou melhor, que a “ausência”, se movimentava entre os barulhos da floresta.

Mas ele não pode perceber que, naquele instante a ausência se movimentava na direção da montanha...

José foi fisgado repentinamente por uma inesperada situação...

Eram umas nove horas da manhã, quando José, em sua meditação foi atacado por alguma consciência...

Tudo isso ocorreu no momento em que ele se distraiu em sua gloria momentânea...

Digo, quando ele distraído, avistou o vaso do animal homem ao seu lado na grama.

O vaso, quieto como um animal, e opaco como um homem, ganhara vida num certo momento, e José sentiu que aquele vaso demonstrava possuir o aspecto de um gênio maligno.

Porém, o vaso caído na grama, estava quieto como qualquer objeto. Embora para José, ele estivesse vívido e gestual... Comunicativo...

O vaso, calado e quieto como qualquer vaso, ganhava em José outra propriedade. A de ser comunicativo.

A expectativa que aquela situação criara em José, era um misto de comunicação e espera por mais comunicação. E José, estático, esperava a resposta do vaso.

E como um sopro místico de fagulhas, o vaso expeliu de si próprio alguma coisa que voava...

Na expectativa sincera de quem não agüenta mais procurar um não sei o quê, José enxergou que saía em desespero do vaso, a figura sacra de uma libélula.

Olhando o inseto, que poderia sim, de toda maneira, ser um animal, o homem sentiu-se desperto, sentiu que a preguiça de pensar lhe fugia da cabeça.

O que veio ao homem depois foi...

...O assoprar do vento frio e noturno em seu rosto...

Uma janela aberta num quadrado mágico. Em seus olhos a distancia incestuosa de uma casa ao horizonte...

José se viu debruçado sobre a janela de uma cabana, a contemplar algumas árvores bem próximas. E viu o céu; a lua flutuante e poderosa...

Fora da cabana, uma estaca enfiada no chão exibia o crânio de um boi...

Na montanha, mais precisamente no rosto de José, Revoava um sopro de esclarecimento, que, apenas se tornou desejável para ele, por caso de urgentíssima necessidade.

Naquele instante, foi que José se deu conta do Silencio que se movia animalesco na floresta, e que ele antes da distração havia percebido, e deu-se enfim conta de que o silencio se movia na direção da montanha.

Mais do que nunca, naquele momento, foi para José a montanha, um lugar inseguro...

(...)